Manu Couto e Letícia Pasuch
Um dos espetáculos mais aguardados pelo público da Cinemateca do Capitólio, “A Vingança dos Filmes B”, começou nesta terça-feira, 16. Em sua 11ª edição, o programa continua com o objetivo de servir de vitrine para freelancers e pessoas com orçamentos pequenos. Produzido de forma independente, este ano o festival apresenta 51 títulos, somando curtas-metragens e longas-metragens. Em meio a exibições fiéis de gatos e crianças assassinas, também há temores de que o cinema provocativo apareça.
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– A exposição “The Revenge of the B-Movies” prestará homenagem ao cineasta John Waters
A inauguração será com o documentário “I Am Divine”, que aborda a vida e trajetória artística da drag queen Divine, maravilhosa musa de John Waters, o cineasta homenageado este ano. Também conhecido como o “Papa do Desperdício”, o diretor é conhecido por seus filmes divertidos e transgressores, como o clássico “Pink Flamingos”, que será exibido na tão aguardada exibição, junto com “Faster, Pussycat!Kill! Matar!” através de Russ Meyer.
A programação também se concentra em produções brasileiras, com exibições como “Estranho Sul”, uma variedade de curtas-metragens de terror e fantasia do Rio Grande do Sul, além de exibições de filmes como o filme de terror cósmico “Amado Pai”, do Rio Grande do Sul. do Janeiro, o terror gaúcho “Possessão Infernal” e o documentário “Mato Mato Mato Mato – Canibal Filmes e as Produções de “horor” no Oeste Catarinense, de Santa Catarina.
O curador Cristian Verardi atribui a sorte da exposição à construção de um debate justo com o público ao longo de mais de uma década. Com o objetivo inicial de dar voz ao cinema independente, a mostra expandiu seus paradigmas de acordo com o interesse do público, em seus próprios termos. O curador destaca o cinema provocador e libertino de John Waters, vencedor deste ano, mas afirma que é “o tipo de afronta que tira o espectador da sua zona de conforto”.
A exposição ficará patente até 28 de julho na Cinemateca Itália (Rua Demétrio Ribeiro, 1085). Confira a entrevista abaixo:
Correio do Povo – Criação independente, a exposição está em sua 11ª edição e é um dos sistemas mais aguardados pelo público. Qual você acha que é a explicação para a boa sorte de “A Vingança dos filmes B”?
Cristian – Acho que a boa sorte vem da maneira como construímos um debate justo com o público ao longo de mais de uma década de exibição. Há concórdia quando o espectador percebe que a ocasião abriga as mesmas paixões e tenta perceber seus desejos como um cinéfilo. A diferença entre o público cativo do programa é que é um público genuinamente interessado em assistir, celebrar e discutir os filmes que estão sendo exibidos, sem se preocupar com o tapete vermelho, festas ou ocasiões paralelas que distraem os filmes.
CP – Como surgiu “A Vingança dos Filmes B”?Qual é o objetivo da exposição?
Cristian – “A Revenge of B Films” nasceu da minha frustração com a organização de outros festivais, onde talvez eu não consiga explorar bem o cinema em que acreditava. O objetivo inicial da exposição é dar voz ao cinema independente, ao cinema underground e aos cineastas de gênero que podem não encontrar lugar nos cinemas tradicionais. E aos poucos, a exposição amplia seus paradigmas de acordo com o interesse do público.
CP – O que leva em conta na hora de escolher os filmes? Como funciona o procedimento de cura?
Cristian – A curadoria é realizada por meio de um longo processo de pesquisa sobre filmes de gênero, onde busco produções de difícil compreensão, clássicos esquecidos e filmes novos que condizem com o perfil da exposição. Muitos daqueles títulos que guardo da minha memória emocional, filmes que marcaram minha formação como cinéfilo e que podem ter repercussões, ajudando a formar um novo público. Como diria o crítico português João Bénard da Costa, “os outros vão gostar das coisas que eu gostei”.
PR – A exibição do curta “Estranho Sul” exibirá filmes de terror e fantasia gaúchos também serão exibidos vários filmes brasileiros, como “Amado Pai” e “Mato Mato Mato”. Filmes de terror brasileiros?
Cristian – O cinema de gênero brasileiro tem preciosidades que passam despercebidas pelo público, basicamente pela dificuldade de localização dos espaços de exibição. É preciso fortalecer o contato do público com um tipo de cinema brasileiro que ele nem suspeita que exista. Terror, ficção científica, fantástico, nosso cinema é muito plural e pouco visto.
CP – Como é homenagear John Waters, o pai do lixo, na edição deste ano?Como você espera que o público receba seus filmes?
Cristian – John Waters é uma lenda do cinema independente mundial e seus filmes são verdadeiros atos de terrorismo em um sentido não incomum. Seu cinema provocativo e libertino possivelmente surpreenderia um público desinformado, mas é o tipo de afronta que tira o espectador de sua zona de conforto e mostra que há uma linguagem cinematográfica além dos critérios impostos pela grande indústria.
CP – Com sessões como “Cuidado com os Gatos” e “Cuidado com as Crianças”, qual é o sentido de criar sistemas de riso em uma exibição de um filme de má qualidade?
Cristian – Essas sessões lúdicas são a marca registrada da exposição, como escreveu Lovecraft, “a ironia raramente está ausente, mesmo nos maiores horrores”.
Confira a programação completa no site da Cinemateca do Capitólio.
*Supervisão através de Luiz Gonzaga Lopes
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