A ‘legalização silenciosa’ da maconha no Brasil

Estamos procurando melhorar nossa página online e seu feedback é importante.

Em 2018, meses após o início do procedimento, Nina se tornou a primeira usuária com depressão a baixar a permissão dos tribunais brasileiros para cultivo de maconha. Hoje ele cuida de seis plantas em sua casa em Natal e as usa de forma, mas basicamente na cozinha: ele faz azeite, mel, brigadeiro, matriz de leite.

“Para mim, funciona de forma mais produtiva quando uso o dia, em pequenas doses de alimentos. À noite, eu borrifo um pouco para ter uma boa noite de sono. Antes do haxixe, fiquei trancado no meu espaço por 10 dias, muitos deles insônias, com as janelas abertas, fechadas, a mentira na cama, nada menos para levantar. Hoje sou outra pessoa, muito mais calma, mas também ativa, vivo no presente. Estou extremamente feliz em dizer que o haxixe trouxe outro significado para a minha vida.

O caso de Nina não é mais o caso no Brasil.

Embora uma lei aprovada em 2006 já forneça suprimentos para o uso de maconha medicinal, a falta de regulamentação levou a decisões judiciais recentes que permitem aos pacientes cultivar haxixe para tratar algumas condições, como autismo, epilepsia, doença de Alzheimer, depressão, ansiedade e doenças crônicas. Enxaqueca.

No mesmo espírito, duas associações de pacientes receberam permissão para cultivar e produzir medicamentos para seus milhares de membros.

Essas decisões judiciais, combinadas com mais prescrições e alívio na burocracia de importação de medicamentos, criam uma espécie de “legalização silenciosa” da maconha medicinal no Brasil. O resultado tem sido o florescimento desse mercado nos últimos meses, segundo médicos, pacientes, advogados e empresários ouvidos pela BBC News Brasil.

Por outro lado, aqueles que semeiam ou comercializam maconha no Brasil sem a autorização dos tribunais poderiam ser punidos com prisão. Na cidade de São Paulo, por exemplo, outras 35 pessoas foram presas por desenvolver a fábrica dentro de casa desde 2017, segundo o conhecimento recebido através da Lei de Acesso à Informação. Sem contar os milhares de presos por tráfico de drogas: hoje é o crime que leva outras pessoas ao máximo nas prisões brasileiras.

No caso de Nina, por exemplo, a Corte concedeu a ela um habeas corpus preventivo, de forma provisória, que a protege de ser presa e processada por desenvolver uma planta proibida no país.

“Eu tive muito preconceito contra a cannabis. Minha geração estava em posição de ver a maconha como uma coisa ruim, usada através de outras pessoas que não precisavam de nada com a vida. Tive que lidar com esse preconceito porque não tinha remédio que eu estava usando, e tinha vários, eu estava correndo para o meu problema”, disse o médico.

Nos últimos anos, diversos estudos clínicos têm indicado que ingredientes extraídos da cannabis, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabidiol (THC), seu princípio psicoativo, podem ser utilizados para fins médicos, em tratamentos para pacientes com dor crônica e doenças. como câncer, epilepsia e fibromialgia.

Apesar disso, profissionais e algumas entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM), afirmam que mais estudos clínicos e estudos de longo prazo são necessários para garantir a eficácia e a proteção do uso de haxixe no remédio para doenças. Por exemplo, o CRF aconselha os médicos a não prescrever THC. No caso do CBD, a entidade aconselhou apenas o uso “compassivo”, ou seja, merece ser prescrito somente depois de todas as oportunidades clássicas já terem sido testadas pelo paciente.

O plantio de haxixe para uso médico e clínico foi planejado no Brasil desde 2006, pela lei 11.343, conhecida como Lei do Narcodrogas, aprovada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas pouco progresso foi feito em sua regulamentação até o início desta década.

Na época, pais de jovens com epilepsia grave pressionaram o governo e entidades médicas a obter permissão para o uso de derivados de haxixe: os únicos medicamentos que reduziram o aparecimento de espasmos e avançaram na qualidade de vida dos jovens.

Em 2014, a Anvisa começou a autorizar a importação de medicamentos à base de CBD, porém, a entrega do produto era cara, tornando o medicamento inviável para as famílias mais pobres. Em dezembro de 2019, a empresa regulamentou a pesquisa, produção e venda de medicamentos no país por meio da indústria farmacêutica, as plantas ainda querem ser importadas do exterior. O principal medicamento autorizado a ser vendido em farmácias, e que controlava o CBD, custa mais de R$ 2 mil.

Por outro lado, a última solução facilitou a importação, procedimento que levou até 90 dias para ser autorizado.

Até dezembro, o paciente tinha que fazer um pedido na Anvisa com prescrição, forma de consentimento e um laudo que apresentasse outros medicamentos que já havia tomado, além de listas de referências com um artigo clínico chocante. Na prática, muitos médicos prescreveram a folga dessa burocracia”, explica a nutricionista médica Patracia Savoi, que trabalha com haxixe medicinal desde 2015.

Esse relatório detalhado não é mais obrigatório e a Anvisa autoriza a importação no prazo de 10 dias. Segundo a agência, outras 7 mil pessoas já possuem essa autorização.

A maioria dos pacientes com prescrições de hash usa um óleo que compreende quantidades variadas de THC e CBD, extraído por um procedimento de evaporação com etanol. O óleo é dado em gotas sob a língua: a quantidade varia para cada pessoa. Os preços podem variar de R$100 a mais de R$1.000.

“Quarentena, prescrições para ansiedade, depressão e insônia aumentaram significativamente. As pessoas são informadas e vêm ao escritório dizendo que precisam usar cannabis, porque precisam substituir seu estilo de vida”, explica. Savoi, que prescreve esse tipo de medicamento pelo menos uma vez por semana.

O habeas corpus preventivo para cultivo doméstico, como o da Doutora Nina de Queiroz, tem um dos equipamentos pelos quais foi legalizado no Brasil. Uma das equipes ativas nesse sentido é a Reforma, que tem 26 advogados em nove estados. Estima-se que algumas das 95 licenças de autossusufato passaram para as mãos dos profissionais do grupo.

Segundo Emilio Figueiredo, advogado da reforma, o número de habeas corpus concedidos está aumentando ano. Foram três casos em 2016, nove a mais em 2017 e mais 16 no ano seguinte. No ano passado, a Corte concedeu outros 25 habeas corpus, e até julho de 2020, mesmo com a quebra dos tribunais na pandemia, já havia 42 novas autorizações.

Figueiredo explica que essa construção se deve à maior sensibilidade do governo e à participação dos advogados de forma organizada. A própria Organização Reforma tem ensinado a ser informada sobre como ordenar habeas corpus, é também um e-book sobre o assunto.

“O habeas corpus serve às elites que plantam a droga por causa de um problema ideológico e filosófico, mães periféricas e solteiras que não podem pagar o tratamento de seus filhos”, diz ela.

A psiquiatra Eliane Nunes, diretora da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (Sbec), também ministrou cursos sobre maconha medicinal e obtenção de habeas corpus na periferia de São Paulo. Ele criou recentemente a tarefa “Mães e Jardineiros”: a organização combina conjuntamente a aprovação judicial de cerca de 30 pais e pacientes de baixa renda.

O objetivo é exercitar essas mulheres para terem documentação obrigatória. Outro ponto vital é que o habeas corpus é preventivo. Uma mãe de uma criança epiléptica, por exemplo, já terá que plantar para entrar na aplicação. Mas é por isso que é perigoso parar até que você tome a resolução”, disse ele.

Com acesso simples, já existem sites no Brasil cujo estilo de negócio é agendar consultas com médicos que prescrevem haxixe e que também importam petróleo e outros produtos, como pomadas e aerossóis.

Um dos mais vitais é o Dr. Cannabis, fundado há pouco mais de dois anos e com 3 fabricantes nos Estados Unidos e na Suíça. “Antes do Covid-19, o maior apelo para dor crônica. Hoje, as consultas em nossa página online dobraram com a pandemia, basicamente pela ansiedade e insônia”, explica Viviane Sedola, fundadora e CEO da empresa.

Conta com 1.200 médicos autorizados, entre psiquiatras e nutricionistas. “Aprendemos que muitos profissionais nem sabem que podem prescrever haxixe ou saber os benefícios que isso tem para os pacientes. Hoje, o desafio do haxixe é mais comunicação do que científico”, explica.

No entanto, é tudo flores no uso medicinal da maconha no Brasil. Um dos transtornos é a qualidade do óleo utilizado através dos pacientes. Embora existam táticas para importar legalmente drogas comprovadas, existem dezenas de outras características cuja composição e origem são pelo menos desconhecidas.

Com exceção de pacientes com habeas corpus e duas associações, os tribunais não permitem que mais ninguém plante e produza petróleo no Brasil. Mas isso não impede que seja vendido ilegalmente nos principais sites de comércio eletrônico e mídias sociais, com entrega de correio. Esse tipo de venda é tráfico de drogas.

“Os óleos têm outras concentrações de THC e CBD, por isso é muito vital que o paciente saiba o que está usando. E todo mundo tem que usá-los de acordo com sua patologia. O CBD, que permite que o quadro relaxe e alivie, praticamente não tem efeitos colaterais. No máximo, causa um pouco de sono e uma leve queda de pressão”, explica a Dra.

“O THC, por outro lado, é inteligente para dor crônica severa, depressão e anorexia porque aumenta o apetite. Mas em quantidades gigantescas, pode causar sintomas psicóticos. Não está dando grandes quantidades de THC para menores de 18 anos, que ainda estão em desenvolvimento, ou para um usuário com esquizofrenia.”

Para o psiquiatra Pietro Vanni, o óleo com concentração máxima de THC não é incomum no Brasil, porém, deve-se prestar atenção aos produtos fabricados indevidamente. “Com a expansão desse mercado, pode haver outros que precisam aproveitá-lo para criar e vender óleos de baixa qualidade, sem controle de dosagem, com pesticidas, fungos devido à má conservação e até mesmo outros produtos químicos venenosos.” Diz.

A psiquiatra Eliane Nunes, que tem 500 pacientes com haxixe, concorda que queremos estar mais confiantes sobre a qualidade dos medicamentos. “O fato é que o que está no rótulo não é o interior da garrafa. Como cada planta é outra, cada lote de óleo vendido pode ter outra composição”, explica.

Além do habeas corpus preventivo individual, o Tribunal já conta com duas associações de pacientes para cultivar haxixe sativa no Brasil: a paraibana Abrace Esperanca e a Apepi no Rio de Janeiro. E outros estão pedindo a mesma decisão.

A Abrece foi aprovada em 2017: produz medicamentos para 3.000 pacientes com epilepsia, Parkinson, Alzheimer e autismo.

A Apepi do Rio de Janeiro, que já conta com 1.000 associados, entrou na Justiça Federal em setembro do ano passado e obteve parecer favorável do Ministério Público Federal (MPF) e da Fundação Oswaldo Cruz. A decisão que autoriza a plantação foi publicada em julho.

Segundo Ladislau Porto, advogado e coordenador da associação, no processo, a entidade tomou a decisão de fazer qualquer coisa “ilegal”: construir o cultivo de maconha para outros pacientes do corpo individual recebidos através de sua fundadora, a ativista Margarete Brito. , a mãe da mulher Sofia, que sofre da síndrome de CDKL5, um desafio raro que causa convulsões e prejudica o desenvolvimento.

“Foi uma desobediência civil para obter as vantagens de outras pessoas que querem a droga. A estratégia era fazer com que o julgamento consciente de que poderíamos ser presos por tráfico de drogas se houvesse uma operação policial. O passe passa em julgamento. foi muito sensível: eles nos ouviram várias vezes e entenderam que estamos vivendo em um tempo de substituição da cannabis.”

Na decisão, o juiz Mario Víctor Braga de Souza afirmou que, embora já existam diversos estudos que comprovem a eficácia da estação no tratamento de doenças graves, a União e a Anvisa permaneceram “absolutamente inertes diante de qualquer iniciativa” para lidar com o problema, escreveu.

E acrescentou: “É por isso que o papel do Judiciário nesse domínio permanece relevante, onde a administração prefere não intervir, para garantir o exercício dos direitos já estabelecidos por lei, dificultado pelo mero fato da falta de regulamentação”.

No entanto, a própria Justiça Federal emitiu decisões conflitantes sobre o mesmo assunto. Ainda em julho, outra associação de pacientes, a ONG Reconstruir, do Rio Grande do Norte, rejeitou por decisão de aprovação federal sobre Janilson Bezerra de Siqueira, do MPF também a favor da soltura neste caso.

Para o magistrado, ele merece não ser o Judiciário sobre o assunto, no entanto, órgãos legislativos ou regulatórios, como a Anvisa. Ele também argumentou que estudos “contraditórios” sobre a eficácia da droga recomendam “medo” e “danos potenciais” ao bem-estar dos pacientes. A ONG vai apelar.

“Hoje a cannabis já está liberada no país, mas para quem pode pagar mais de R$ 2 mil na farmácia. Quando a Justiça nega o cultivo associativo, está impedindo que pessoas mais pobres acessem o remédio mais barato e tenham seu direito à saúde respeitado”, diz Felipe Farias, presidente da Reconstruir.

Desde o início do processo, a ONG parou de plantar, temendo operações policiais. Segundo Farias, os pacientes do banco usavam importação de petróleo, aquisição de CBD de farmácias e até tráfico de drogas por meio de facções corruptas.

Segundo o advogado Emílio Figueiredo, da reforma, a construção de decisões proculturais vai gerar uma onda de legalização, como tem acontecido no estado da Califórnia, EUA. “Estamos no caminho da consolidação da cultura doméstica para fins de cura. Hoje, a jurisprudência estabelecida não é mencionada, mas os precedentes em primeira e segunda instâncias. Essa jurisprudência tomará uma posição em não mais do que um ano.” Diz.

A defensora pública federal Tarcila Maia Lopes concorda: “A judicialização tende a aumentar. As pessoas são mais conscientes e menos preconceituosas. Há uma taxa negativa muito forte em relação à cannabis, mas ela é gradualmente cancelada dessas histórias de sucesso individual”, diz ela, que atua como componente dos processos de Habeas corpus da Defensoria Pública.

O advogado Ladislau Porto, da Apepi, acredita que o chamado uso recreativo da maconha também deve ser colocado em prática: a descriminalização da propriedade de pequenas quantidades de drogas para uso em branco ainda está sendo analisada no Supremo Tribunal Federal, com já 3 votos a favor da conclusão. Sanções

“Há essa discussão sobre quais são os usos médicos e recreativos. As pessoas também usam maconha para se manterem saudáveis, mesmo que não estejam doentes. A Organização Mundial da Saúde diz que o bem-estar também é saúde. Conheço advogados e outros profissionais que usam maconha por horas para pintar melhor, para diminuir a ansiedade e o estresse. É recreativo ou médico? Para mim, a maconha merece ser classificada como remédio à base de plantas.

Você já viu o nosso novo no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *