Já se foram os dias em que os governos parlamentares sólidos da Europa oscilavam entre uma direita moderada, que encorajava empresas mais frouxas, e os da centro-esquerda, mais determinados a criar proteções máximas inimagináveis para os trabalhadores. Eles garantiram uma era de estabilidade, confiabilidade e senso econômico não incomum: tudo o que os eleitores alemães, em sua maioria, amam e agora sentem que estão perdendo. O voto de desconfiança contra Olaf Sholz é uma representação disso: ele não fez nada de muito errado. Ele está errado, mas não conseguiu manter a coalizão que sustentou seu governo e contribui para o sentimento generalizado de que as coisas estão dando errado.
As pesquisas sugerem que a clássica União Democrata Cristã deve ganhar a maioria nas eleições a serem realizadas em 23 de fevereiro e que seu líder, Friedrich Merz, será o novo primeiro-ministro, inevitavelmente forçado a realizar o balé político. Trata-se de conquistar os componentes que fazem parte de uma nova coalizão.
O aliado “natural” é o Partido Democrático Liberal, da mesma tendência de direita moderada. Num casamento que todo mundo considerava insustentável, o partido de direita integrava o governo atual, juntamente com os ecologistas, e foi quem provocou a derrocada de Scholz ao romper a aliança. Não é nada impossível que o novo chanceler, como os alemães chamam o primeiro-ministro, se alie justamente ao Partido Social-Democrata de Scholz.
Qual é a garantia de que o governo a longo prazo não seguirá a mesma trajetória de impulsos contraditórios que acabam por levar à perda da maioria?
É possível que nem se esforçando muito consiga ser pior do que Scholz, um sujeito decente, mas um líder fraco, sem inspiração e sem coragem de romper com a parte rançosa da social-democracia. A revista britânica The Spectator definiu assim as respostas do primeiro-ministro aos problemas que enfrentou: “Expandir o estado, aumentar a dívida, redistribuir mais dinheiro e, o maior sucesso de todos os tempos de seu partido, taxar os ricos.”
Se o estilo é semelhante ao seguido em países da ponta da corda como a Alemanha (PIB de 4. 000 milhões, o que equivale a 54. 000 por habitante), é porque tem a mesma matriz.
O problema sistêmico da Alemanha, protagonista de dois dos maiores milagres do século XX, a recuperação no pós-guerra e a reunificação com a antiga metade comunista, está na base industrial fabulosa, mas crescentemente incompatível com as exigências dos novos tempos. O planejado fechamento de três fábricas da Volkswagen, afetada pela demanda fraca na China e na Europa e por um projeto ruim para a transição energética, é o maior símbolo desses problemas.
Este ano o país deverá sair da recessão e as perspectivas são muito optimistas, com “muito pouco investimento e demasiada burocracia”, segundo o líder empresarial Martin Wansleben.
Muitos países economicamente menos favorecidos gostariam de ter os problemas da Alemanha, com seu alto nível de desenvolvimento e excelente qualidade de vida.
Isso é ruim para a Europa e para o resto do mundo, uma Alemanha que joga menos bem e está mais exposta aos extremos, representados pelos partidos de direita e esquerda linha-dura que estão surgindo nas pesquisas e nas eleições regionais. .
Seria melhor se, como no passado, não importasse quem estivesse no poder, porque as coisas correriam tão bem.
Naqueles tempos, Friedrich Merz, o provável primeiro-ministro a partir de fevereiro, estaria no lugar certo: sem charme, sem apelo e com um currículo altamente confiável como ex-executivo da gigante de investimentos BlackRock. Hoje, a Alemanha não está num bom momento para ter mais do mesmo.
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